Prejuízos para o setor da borracha não estão totalmente contabilizados e devem se estender a médio e longo prazo.

As águas baixaram, mas o trabalho conjunto da Autotravi e do Sindicato das Indústrias de Artefatos de Borracha no Estado do Rio Grande do Sul (SINBORSUL) deve seguir ainda por um bom tempo. Durante todo o mês de maio, foi preciso criatividade para encontrar soluções, muita resiliência e, principalmente, união. Com alguns colaboradores atingidos, já recebendo pessoas de outras cidades que preferiram recomeçar a vida em Caxias do Sul e apoiando o sindicato com a sua planta e lista de fornecedores, a Autotravi tem colocado a ajuda às vítimas e o apoio à reconstrução do Estado no centro das suas ações.

Localizada em Caxias do Sul, a empresa não teve a sua estrutura atingida, mas foi diretamente impactada pelos prejuízos em estradas, que dificultaram o escoamento de produtos e a chegada de matéria-prima. “Nos primeiros dias, o foco foi atender os funcionários atingidos, e a empresa ficou parada por dois dias. Depois, passamos a buscar formas de driblar os bloqueios das estradas, para retomar as entregas de pedidos, e assumimos o nosso papel de auxiliar quem foi mais impactado do que nós”, explica o diretor executivo CEO, Eduardo Aver Vanin. A Autotravi se tornou um ponto de arrecadação de donativos e distribuiu cestas básicas, água e roupas para os abrigos.

Além disso, foi estabelecida uma forte parceria com o SINBORSUL, já que a região do Vale do Rio dos Sinos, fortemente atingida, é um polo importante do segmento da borracha. “Estamos apoiando com suporte para manutenção de maquinário, através de indicação e intermediação com fornecedores; fornecimento de matéria-prima a preço de custo e disponibilização da estrutura física e de maquinário da área de mistura, em que acontece a etapa inicial da produção da borracha”, explica o gerente comercial, Paulo Ricardo Steiner. Ele acrescenta que foi posta em prática, também, uma política diferenciada para os clientes da Autotravi que foram impactados, com prioridade de pedidos assim que as operações retornarem: “Nosso objetivo é contribuir com o retorno do faturamento e a retomada da geração de caixa”, acrescenta. Esses clientes também tiveram vencimentos de títulos postergados.

Para o presidente do SINBORSUL, Sergio Luis Patzlaff, ações como essas são fundamentais neste momento complicado para o setor. Conforme ele, olhando o segmento como um todo, inclusive empresas não associadas ao sindicato, estima-se que existam cerca de 1 mil colaboradores impactados com a perda da casa onde viviam ou, caso a construção tenha sobrevivido, de tudo que havia dentro. “Somente entre os associados, são mais de 400 colaboradores que tiveram a casa alagada e perderam tudo. O SINBORSUL tem ajudado essas pessoas de diversas formas, inclusive com recursos financeiros, por meio das empresas. As campanhas que organizamos têm recebido muito apoio e quero reforçar a grande doação de produtos do Sindibor de São Paulo, que nos emocionou”, detalha. A compra de lava-jatos esteve as medidas tomadas nos últimos dias, já que a necessidade de limpeza é muito grande após a água ter baixado, e a ela se somaram outras iniciativas.

Patzlaff acrescenta que, na área do sindicato, por enquanto, foi possível catalogar oito empresas que ficaram embaixo da água e perderam tanto maquinário, quanto matéria-prima e produto pronto. É para algumas delas que está chegando a ajuda da Autotravi e de outras fábricas menos impactadas. Conforme o presidente, a demanda de manutenção é altíssima, e formar essa rede, indicando e colaborando com prestadores de serviços, é indispensável para que o retorno ao trabalho possa acontecer. “Não há mão de obra disponível para tanta demanda, então estamos buscando ajuda de outras regiões do Estado, porque precisamos retomar o funcionamento desses associados”, completa.

Em relação ao impacto econômico, Patzlaff afirma que não foi possível contabilizar ainda, mas há uma certeza de os prejuízos se estenderão a médio e longo prazos. Com colaboradores sem nada – alguns nem casa – e nenhuma condição emocional de voltar ao trabalho, além de empresas paradas, a retomada será lenta. “Não vamos resolver da noite para o dia. Primeiro, é preciso dar conforto para os trabalhadores da indústria, para que possam de novo se sentir com a saúde mental ok para desenvolver as suas atividades. Além disso, muitas plantas que ficaram embaixo da água são de empresas pequenas, familiares, então estamos ao lado da FIERGS para pressionar por carência e dinheiro a fundo perdido ou juros muito baixos. Não adianta emprestar dinheiro para ter que começar a pagar logo, ainda vamos sentir os efeitos por muito tempo”, acrescenta.

A reconstrução do Rio Grande do Sul depende de todos, e mais uma ação da Autotravi começa nesta semana. Para valorizar, incentivar e potencializar coletivamente a economia gaúcha, os produtos passarão a ser entregues com um selo com as inscrição “Juntos pelo RS / Produto Gaúcho”. Essa união está também no acolhimento de quem entendeu que o terreno onde vivia será coberto pela água com frequência e preferiu subir a Serra. A Autotravi já contratou pessoas que foram impactadas e vieram buscar aqui uma nova vida. “Estamos de braços abertos para receber e com todas as nossas forças à disposição para entregar a ajuda que estiver ao nosso alcance. O Rio Grande do Sul vai se reerguer”, finaliza Vanin.